sábado, 15 de novembro de 2014

Academia de Drags — Episódio 5

Chegamos à reta final de Academia de Drags, e o sentimento que fica é que ainda há sabores que não sentimos. Estamos prestes a testemunhar a coroação de uma nova Drag Queen que a todos irá governar (tá, nem tanto), mas sinto que precisávamos de mais alguns episódios para ter certeza de que a vencedora merecerá tal título. Ainda há muitos pontos em que cada uma das candidatas precisa crescer.

O termo "academia" não foi escolhido sem razão. Desde a estréia morna perecebia-se um amadorismo desconcertante nas concorrentes. Maquiagem inacabada, figurinos de gosto duvidoso, falta de firmeza em suas opiniões, nervosismo visível no palco e diante das câmeras. Portanto, não daria para trazer nomes consolidados da noite gay brasileira, como Striperella, Talessa Top, Thalia Bombinha, Márcia Pantera, Robytt Moon, entre diversas outras, para competirem entre si. Era preciso apresentar o novo, talentos em ascensão para que o público pudesse julgar do lado de fora da tela junto com o júri oficial dentro dela. Em resumo, e considerando minha opinião pessoal, não será coroada a drag mais completa, como diz o anúncio, mas a que mais se deu bem nos desafios propostos para esta temporada.

Lavynia Storm arrasa na dança e tem uma presença de palco muito boa. Rita Von Hunty tem um estilo único, o mais diferenciado entre elas. Yasmin tem tudo para ser uma Top Drag ou um caricata. Xantara tem os figurinos mais caprichados e a capacidade para focar 100% na competição, Gysella é a Big Girl que sabe e se aceita como é, e consegue apresentar um resultado que foge do "gordinha". Cada uma tem sim suas qualidades, mas todas precisam comer muito feijão com arroz para chegar ao nível das já renomadas.

Mais uma vez digo: não desmereço nenhuma delas em meus textos. Uma vez que você entra em uma competição desse nível, críticas virão. Como escritor, sei filtrar as críticas destrutivas das construtivas. Criticar é apontar onde você pode melhorar, e é exatamente o que busco fazer aqui.


A discussão inicial do quinto episódio mais uma vez envolve a bonequinha de luxo Rita Von Hunty. Rita tem sua atenção chamada para o real propósito de suas escolhas no episódio anterior. Quando diz que só havia visto Musa fazer o estilo andrógino e, por isso, a escalou para ser a mãe conservadora, para ver se ela seria capaz de fugir de seu estilo e ainda assim manter-se acima da média, Gysella contra-ataca dizendo que a desculpa é uma conttradição, pois a própria Rita nunca fez nada fora de seu estilo. Concordo em partes.

Rita escolheu ser a mãe de miss e o papel caiu como uma luva. Estava dentro de seu estilo. Falando em atuação, Rita é uma das melhores, pois sua personagem envolve muito mais do que somente bater cabelo. Ela adotou um conceito sólido, e é fiel a ele. Dessa forma, ela sabe atuar para poder dar vida à personagem. Porém, não dá para apontar com certeza, mas acredito que ela teria tido dificuldade em ser a filha louca caricata.

Por outro lado, Gysella não apresenta argumentos fortes, pois em nenhum dos episódios saiu também de seu estilo. Ela rebate a defesa de Rita perguntando se no segundo episódio estava como drag ou como menina. Rita responde: "Você estava como drag." E Gysella: "Eu estava de menina, meu amor. Você é cega e não viu." Gysella, você estava de drag. Nenhuma de vocês, em momento algum, esteve de menina, pois o truque está aí embaixo, bem escondido. Drag todas são. Drag não é um estilo. Estilo é ser andrógina, ou pin-up, ou do guetto (aliás, Samantha Banks é a melhor no quesito), ou top/fishy/feminina, ou caricata, ou cover, ou etc. Se uma queen não consegue definir o próprio estilo, então ela não terá força para defendê-lo e marcar território, conquistar o respeito do público.

Por falar em discussão, sinto falta de Yasmin nas conversas. São sempre as mesmas discutindo suas opiniões, e Yasmin está sempre ali, quietinha, apenas ouvindo. Essa postura — ou falta dela — compromete a aproximação do público. Ela é simpática, talentosa, mas falta-lhe uma voz. Afinal, quem é Yasmin Carraroh? É o que eu quero saber. Ela venceu dois desafios, e foram merecidos, mas quando não se sabe o que está por trás da maquiagem, fica difícil torcer e vibrar plenamente por ela.


Eliseu Cabral entra no workroom para apresentar o mini-desafio da semana, onde as queens terão que preparar uma caracterização do pescoço pra cima com perucas e elementos dispostos sobre a mesa. Cada um dos cinco representa um elemanto da natureza — água, fogo, ar e água —, junto com o "elemento drag", o neon (?).

Um detalhe que não ficou claro: Eliseu diz que eles só poderão usar a pele para fazer a maquiagem. Como assim? Fiquei pensando e pensando, e imaginei que elas não poderiam, por exemplo, usar adereços no rosto, como cílios postiços, mas então vi que Gysella e Xantara estavam com cílios. Se alguém puder me explicar o que Eliseu quis dizer com isso, sinta-se à vontade para comentar.

A vencedora é Gysella, que conseguiu entregar uma produção babadeira. Minha favorita foi Xantara, mas, como Eliseu apontou, o resultado foi algo convencional. Gysella venceu por ter driblado as dificuldades da peruca em si e do uso limitado dos objetos a ele entregues. Mereceu. Lavynia foi de longe a pior, enquanto Yasmin e Rita ficaram no nível regular-baixo.

Há outra coisa que percebi. Na verdade já  havia notado isso desde o primeiro episódio, mas agora ficou claro. Há certos momentos em que o som ambiente some e a edição parece dar play em uma mensagem pré-gravada. Quando Eliseu fala sobre o desafio principal (e em nenhum momento a câmera o focaliza, enquadrando apenas as meninas) percebe-se que ele não está ali falando no mesmo instante em que elas estão sendo gravadas. São detalhes bobos, mas que acabam deixando rebarbas/lascas/linhas soltas no produto final.

O desafio principal envolve uma apresentação de dança em grupo, que terá como tema o elemento da vencedora do mini-desafio, fogo.


O primeiro professor da Aula de Dança é Jairo Azevedo, coreógrafo da Blue Space. O cara vem para colocar ordem no putei... quer dizer, na academia. Não está ali para ensiná-las a dançar, mas para ensiná-las a administrar os passos. Afinal, dançar não é ficar se jogando pra lá e pra cá, sem respeitar o espaço das companheiras. Se você trabalha em grupo, mesmo que seja com bailarinos que não fazem parte dos holofotes principais, saber traçar um limite para que você mesmo não se perca é primordial para uma apresentação de sucesso. Dança é um caos organizado.

A segunda professora é Alexia Twister, que dispensa apresentações. Considero Alexia como um dos maiores nomes nacionais do mercado de entretenimento gay. Seus shows fazem qualquer queixo cair. Para complementar a primeira metade da aula, Alexia dá dicas às meninas para que elas tenham noção do espaço, e principalmente de seu próprio corpo. Ajuda-as a entender suas particularidades para que usem de pontos que consideram negativos e os transformem em positivos. A edição focou nas dicas que deu a Yasmin, mas acredito que tenha dosado um pouco para todas, o que ficou fora da edição final.


Silvetty Montilla chega ao palco principal e... AAAAAAHHHHHHHHHHHHHH! Que susto, Silvetty! Brincadeiras à parte, o acabamento da maquiagem e do figurino é impecável, mas senti que os envolvidos na produção de Mama Sil tenham se perdido no conceito. Entendi a proposta, algo Disco. Infelizmente, tudo o que consegui ver era algum inimigo do Batman. Não funcionou como o esperado. Para ajudá-la a julgar, vem Elise, Alexia, e Vagner Cavalcanti, diretor artístico da Blue Space. Todos conseguem criticar de modo sólido. Tudo o que é dito por Vagner eu assino embaixo.

DICA PARA A PRODUÇÃO: Mandem alguém varrer esse palco, pelamordedeus!


Na performance final, com a música Rock'n'Roll, de Nicky Valentine, vemos algo que a própria Alexia aponta enquanto júri: as meninas pareciam mais soltas no ensaio.


Gysella Popovick: Maquiagem estava linda, cabelo maravilhoso (embora seja a terceira vez que o usa), e o figurino era divino — porém, fugiu totalmente do tema fogo. Aliás, como "líder", Gysella deveria ter ido para a Recuperação. Cadê a originalidade? Vermelho representa fogo? E o que mais? No workroom, quando disse a Jairo o que tinha em mente para a performance, nada ficou muito claro. Nota-se a dificuldade de Gysella em apresentar suas ideias, sempre dependendo de bordões, de xainirons. Antes de julgar a pin-up, é preciso olhar para o próprio edí. Na coreografia, Gysella foi razoável, porque se apoia bastante no bate cabelo e carão; nada incrível. A dublagem... Péssima. Aliás, todas estavam sofridas dublando. Ou tiveram só meia-hora para ensaiar, ou não se atentaram em decorar a música. Ah, outra coisinha: Alguém mais percebeu que Gysella não troca esse salto dela por nada?

Rita Von Hunty: A maquiagem estava estonteante e o figurino, maravilhoso (Não faltou nada ali, Cabral!), seu melhor look até hoje na Academia. Como dançarina, Rita pecou. Nem toda performer é dançarina. Tomemos como exemplo As Deendjers, de Curitiba. Dentro de seu estilo, a dupla é quem domina. Porém, nunca as vi batendo cabelo, e é algo que não faz falta, não há necessidade. Rita não é dançarina, está claro. Ela se esforça em alguns momentos, mas em outros parece prestes a desmaiar de Lexotan. Sua languidez não anda lado a lado com o tema fogo. Quando não está no centro da roda, Rita parece perdida, esperando sua vez para dar mais alguns passos, rodopios, e voltar a ficar parada no fundo do palco. Sei que o desafio da semana não é a praia de Rita, mas, embora alguns apontem como falta de comprometimento, eu defendo como o ponto final da mensagem que Rita quis transmitir durante todo o programa.

Lavynia Storm: Finalmente acertou na maquiagem, gata. E que acerto! Linda de viver. O macacão vermelho foi on point, a peruca (também usada mais de uma vez) caiu bem, mas a maquiagem foi um dos pontos altos da senhorita Tempestade. Como dançarina, merecia a vitória. Só dava ela naquele palco. A dublagem não foi das piores (todas estavam péssimas), mas a postura compensou tudo. Foi para a final, e ficou feliz por isso, mas, no seu lugar, eu teria reivindicado meu direito a vencedora da semana.

Yasmin Carraroh: Sua altura não ajudou a dar-lhe destaque. Poucas vezes olhei para Yasmin durante a performance. O cabelo estava errado, o figurino estava errado, os passos estavam errados. Depois de duas semanas como vencedora invicta, Yasmin levou um tropeço grande. No workroom Alexia havia atentado-as sobre a postura ereta, sobre como portar-se como meninas, e Yasmin ainda não conseguiu entender. Na última análise eu havia falado sobre isso, e agora enxerguei onde está o problema. Talvez nem esteja somente com Yasmin, mas aproveito a deixa para dar outra dica à produção. Olhem isso:


O que acabou resultando nisso:


A bancada do júri fica em um nível muito abaixo do palco. As câmeras não estão posicionadas da melhor forma. As meninas, enquanto escutam, precisam olhar para os jurados, e a papada aumenta, até para quem não tem. Os jurados deveriam ficar em um nível elevado para que elas olhassem em linha reta, o que não comprometeria sua beleza. Esse é apenas um dos problemas do cenário. A câmera principal está posicionada do lado direito, o que acabou dando um enfoque maior em Gysella, Rita e Lavynia, enquanto Yasmin e (principalmente) Xantara ficaram do outro lado, mais afastadas da câmera, quase esquecidas. A iluminação também não coopera.

Xantara Thompson: O figurino vestiu bem não apenas Xantara, mas a proposta. De todas, era a única realmente Rock 'n Roll. Tive que assistir mais de uma vez para ver quão bem ela se saiu. A maquiagem, como sempre, estava linda. Xantara se mantém no personagem o tempo todo, o que eu já havia percebido desde o stand up. Na coreografia ela arrasou; na dublagem nem tanto. Enquanto as outras dublavam de modo sofrível, Xantara nem se dava ao trabalho de abrir a boca. Houveram momentos em que ela cometeu o mesmo erro da maioria, de ficar parada no fundo do palco esperando sua vez. Não mereceu a vitória, mas foi a segunda melhor.

O resultado final leva Rita Von Hunty e Yasmin Carraroh para a Recuperação. Pela primeira vez temos cada uma das duas indicadas à eliminação dublando músicas diferentes. É um diferencial, mas que, à primeira vista, não funciona. Para começar, nenhuma deveria ter o direito de escolher qual canção dublar. É uma competição, então é preciso estar preparado para tudo. Enquanto Rita dubla Can't Stop Loving You, de Lorena Simpson, Yasmin dubla Kiss Kiss Good Bye, de Nicky Valentine (Nicky domina).

Rita muda o figurino para algo viúva realness. Linda! A performance começa e, quando o guarda-chuva é aberto e a purpurina amarela cai, eu me arrepiei. Rita não é queen de dança, o que percebe-se quando ela arrisca alguns passos desengonçados. Parece eu dançando. Apesar da desenvoltura, Rita entrega um show único. Se ela ensaiar a parada melhor e lapidar todas as arestas, pode ter um show foda na manga e parar as pistas de dança por onde passar.

Yasmin também muda o figurino, e entra destruidora. Também gatíssima. Toda trabalhada no neon verde-e-amarelo, desenvolve uma apresentação que remete às drags que eu assistia em minhas primeiras idas a baladas gays e que despertaram meu interesse por essa arte. A dublagem é babado, os movimentos afiados, MAS, em comparação com Rita, não foi algo exclusivo. Vi diversas queens fazendo a mesma coisa. Não me arrepiou.

Como não sou eu lá, mas Silvetty "Coringa", Rita se despede da Academia, dando passe para Yasmin chegar à final. Rita se tornou, ali, a incompreendida da temporada. Mas como eu já havia mencionado anteriormente, Rita não precisa de uma coroa. Sua postura durante toda a temporada manteve-se firme ao que ela acredita. Na mensagem de despedida, Rita aproveita seus últimos momentos na tela não para mendigar atenção ou lamentar-se do que poderia ter sido ou feito, mas para passar uma mensagem importante:

"Eu aprendi muito cedo que existem dois tipos de pessoas no mundo: as conformadas e as incorfomadas. Toda mudança no mundo depende das incorfomadas. Então se inconforme e faça tudo da maneira que você acredita que deve ser feito."

E não estou julgando as outras, mas ressaltando a postura da Rita. Eu mesmo, se estivesse participando e saísse, minha mensagem final seria "Espero que todas vocês morram." Mentira.

Estou inconformado que Rita tenha saído, mas sei que é só o começo de algo brilhante e repleto de sucesso para a artista que mais marcou a primeira temporada de Academia de Drags.

O próximo episódio é o último, e teremos quatro queens batalhando pela coroa... na verdade pela peruca da Lully Hair. Podíamos ter outro desafio antes, e levar apenas três à final. Mas não vou desperdiçar estas últimas linhas para lamentar o que poderia ser. Resta aproveitar o que Academia ainda tem a oferecer. Qualquer que seja o resultado final, já estou ansioso pela próxima temporada.

Aliás, para quem você está torcendo? Com a saída de Rita, minha favorita, Xantara é a candidata mais forte, a única a não ter ido para a Recuperação. Venceu dois desafios, assim como Yasmin. Yasmin, no entanto, foi uma vez para a Recuperação. Lavynia foi para uma Recuperação e não venceu nada, mas chegou bem perto. Gysella nunca foi para a Recuperação, e sua única vitória não achei justa.

Dessa forma, Xantara tem grandes chances de ganhar aquela peruca de cabelo natural, a viagem internacional, e um show produzido na boate Blue Space. Será ela a atração principal do dia 5 de dezembro?

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