sábado, 18 de outubro de 2014

Academia de Drags — Episódio 1

Na última segunda, 13/10, estreou Academia de Drags, reality em formato webserie comandado pela nossa rainha do feijão (PÁ!) Silvetty Montilla e exibido no Youtube, bem aqui.

Colecionando críticas variadas após a disponibilização de seu primeiro episódio, é impossível não rebater as negativas com: Por favor, gente! Vocês não queriam um nível de RPDR Season 6 em uma série independente nacional virtual, né? Tá, queriam. Eu também quero. Mas mesmo RuPaul começou com aquele palco sofrido com cortinas de celofane e drags de gosto bastante discutível (bjos Akashia e Rebecca), tudo exibido por uma câmera que parecia ter sido gozada e limpada rapidinho com uma flanela. Não vou usar aquele argumento de "Faz melhor!", mas vou apelar para o bom senso do público: deixem o veneno gratuito guardado embaixo da língua, e apoiem essa tentativa de dar maior visibilidade às drag queens brasileiras, de desmitificar a imagem errônea que ainda rola por aí, inclusive no meio gay.

Ou usando as palavras de nossa RuPaula brasileira:

É O QUE TEM PRA HOJE!


Na primeira vez que assisti ao episódio, entendi e concordei com a maior crítica negativa que rolava por aí: o áudio estava péssimo. Porém, no dia seguinte, reassisti e tive a impressão que o vídeo foi upado novamente, dessa vez com áudio melhorado. Ponto positivo, pois vemos aí que a equipe, apesar dos erros iniciais, ouviu o público e corrigiu sem demora.

Acho que já assisti o episódio mais de dez vezes. É simplesmente viciante! Podia ter mais 20 minutos de duração, focando no desenvolvimento dos looks e permitindo ao espectador conhecer os meninos por trás das drag personas, o que ajuda a escolher as favoritas. Duvido que os próximos episódios durem mais que o tempo padrão do primeiro, mas talvez estiquem a duração na próxima temporada. Oxe! Vocês duvidam que terá uma season 2? Eu não.


O episódio começa com a entrada das meninas no workroom. Gysella Popovick (Genival Alexandre, 23 anos) é a primeira, esbanjando luxo. Achei a maquiagem marcada demais; ela poderia ter dado uma suavizada nas bochechas (pareciam hematomas), mas o look (principalmente o corpete impedindo a entrada de oxigênio) foi acertado. Tem cara de vencedora, e achei que lembra um pouco de Roxxxy Andrews — com três X, assim como o tamanho de suas roupas. Tsá.

A segunda é Hidra Von Carter (Arthur, 23 anos), a aparente Akashia da edição — e não falo somente da língua venenosa. Sua entrada não foi nada para gag over. Eu gostaria de manter todas as análises o mais suave possível, afinal não tenho motivos para atacar nenhuma das queens. Mas Hidra merece, e já digo o motivo.

Em seguida vem a segunda Big Girl da edição, Laurie Blue (Natan, 22 anos). O colant azul e cabelão ficaram muito bem nela, e out of drag parece ser uma pessoa muito bacana.

A quarta é Lavynia Storm. Quando ela apareceu no vídeo dando uma entrevista e falando sobre sua carreira, achei a menina zuada. Pensei "Sofriiiiida...", mas então ela entrou e CARAMBA! A melhor montação da entrada. Fishy, fyna, ryca e nem precisou das duas pernas para isso. Acertou no look, acertou no cabelo. A maquiagem podia ser mais drag, porque ela não é fishy como Courtney Act para confiar apenas num gloss básico, mas a bicha tem potencial.

A quinta é Musa (Flávio Ramos, 18 anos). Confesso que não me senti confortável com seu estilo, e não sei explicar o motivo. Dançando a menina arrasa, mas seus dois primeiros looks (do vídeo e da entrada) não me convenceram. Calma, vinhado! Ainda vou falar do look apresentado no desafio principal.

A sexta é minha amiga de longa data (só que não) Rita Von Hunty (Guilherme Terreri, 22 anos), a pin-up do grupo. Fiquei surpreso ao vê-la na Academia, e de um jeito positivo. Conheci a Rita há algum tempo (virtualmente) através da maravilhosa Samantha Banks (que espero ver na próxima edição (Por favor, hein, Silvetty! Traz a moça do cabelo afro-descendente). O look da entrada de Rita eu já havia visto em uma foto, então não senti o frescor que ela deveria ter trazido. Mas Ritinha acertou na fala inicial, arrancando risos das meninas. Rita é a Milk da season, e não pelo estilo, mas por ser o mais bonito out of drag.

A sexta é Xantara Thompson (Breno Tavares, 25 anos). Só uma palavra: KenyaMichaels. Look certo, mas a maquiagem aumentou sua bochecha — infelizmente de um modo errado. Sorry 'bout it. Mas é bicha babado.

A sétima e última é Yasmin Carraroh (Paulo, 23 anos). Confusão, atraque e tiroteio. Adorei o estilo pessoal dela. É do tipo bicha-que-mia. Só nos cinco primeiros passos no workroom já soltou uns 27 nhai nhóóón. Adoro! A make 'tava marcada como duas facadas na cara, mas, segundo Gysella, ela melhorou muito. Quem sou eu pra dizer o contrário?


Na sequência vemos nossa hostess Sílvio Bernardo de Cast... GLUP! Silvetty Montilla em sua mansão no Morumbi impossibilitada de ir para a academia por conta de uns probleminhas com seu helicóptero. Uhum... Para apresentar a primeira mini-prova das meninas, o Pit Crew formado por um único integrante, Rick Callado (Que homem lindo é esse? Eu faria sem pensar duas vezes), traz um tablet onde vemos Miss Sil dizendo às meninas que o mini-desafio consiste em fazer uma selfie. Cada uma tem três tentativas — e umas não acertariam nem com 30. Deixa pra lá.

Não entendi o comentário da Hidra a respeito das poses que as colegas fazem. O desafio pede para que se faça selfies. A própria fez as suas, e foi a menos bem sucedida. Aí me vem a bunita no "confessionário" caçoar as queens por estarem fazendo as poses e tal — sendo que todas o fazem melhor que ela. Primeira tentativa de ser a Shannel/Raven/PhiPhi/Willam = FAIL. Não senti naturalidade em nenhum confessionário de Hidra. Parece estar sempre forçando um personagem. Eu sei que estamos diante de um reality e, apesar de serem pessoas ali, queremos, no fundo, amar e odiar personagens, mas para se fazer isso é preciso ser natural, e me desculpe, Hidra, mas nem com sete cabeças você o seria.

A vencedora é Musa, e sua foto é bem legal, condiz com sua personagem, arrasou. Laurie, Xantara, Yasmin e Gysella também conseguem fotos bonitas, mas como só uma pode vencer...

Apesar de em alguns momentos sentir que Silvetty está presa ao roteiro, o que a afasta da rainha do improviso que conhecemos, temos fagulhas em diversos momentos de seu humor, e todos os contras acabam tornando-se pequenos. Ela escolhendo a foto vencedora é um desses momentos. Aposto que o "GLUP! Ih, olha... Tá muito ruim, menina" foi para a foto da Hidrazinha querida <3

Vencer o desafio não dá nenhuma vantagem real a Musa. A única coisa que ela ganha é decidir a ordem de entrada no desfile final. Podia ter ganhado algo melhor, né? Tipo um Yakult, ou algo assim.


O desafio principal é o Drag Fashion Week, e pede para que as meninas montem um visual drag fashion, desfilem no palco principal (que parece a Blue Space), e tirem uma foto no final. Outra foto? Achei desnecessário.

Chega a hora da desmontação. Perucas dão lugar a cabelo real preso a duréx, cinturinhas finas exibem cintas MADE FOR THALIA (Como você entrou nisso, Rita? O.o), rostinhos de meninas dão vez a... rostinhos de meninas. Brincadeira. Algumas são bem masculinas. Só que nunca.

Lavynia é a mais efusiva. Adoro! Já começa a contar a história de uma cicatriz provocada pelos seus "cachorro", e isso e aquilo, e blá blá blá, e bicha-bicha-bicha, e mona-mona-mona, e bicha-mona. Kkkkkkkkkkk! Foi o único comentário maldito de Hidra que gostei, mas, diferente dela, curti o jeito de Lavynia (que ainda não sei o nome real e idade, e não tô afim de procurar agora).

Rita tem uma das transformações mais chocantes. Já havia assistido o documentário Perfil diversidade - Episódio 1: Guilherme e Rita (que pode ser visto aqui), mas é sempre curioso ver o quão dispostos certos artistas estão para superar a dor em prol da arte. Um detalhe que chama minha atenção, e que notei desde que desenhei Rita pela primeira vez, é o olhar triste de Guilherme. De todas as meninas, é o mais inteligente, mas tenho receio que essa tristeza velada possa comprometer sua desenvoltura ao longo do programa.


Alexandre Herchcovitch é o professor que ensinará um pouco sobre o que é moda. Acredito que Alexandre fará parte do júri fixo, mas espero MUITO que ele melhore, tanto sobre os ensinamentos quanto sobre as críticas. Odiamos Santino Rice exatamente por isso. Espero não odiarmos Alexandre também. O cara é um fofo, lindo e querido, mas se for pra julgar drag, que saiba o que está falando (se bem que concordei com a parte da mala).

E já chegamos à sequência final do episódio. Rápido, não? Nem senti. Silvetão entra usando um longo clara em neves, maquiagem e jóias FÍ-nissimas e (ainda presa ao roteiro em algumas partes) deliciando-nos com um pouco de suas pérolas CHAPA FROUXA e É O QUE TEM PRA HOJE. A propósito, esta última é um grito de Silvetty que pode ser traduzido como MEUCU, resignada e consciente da versão tupiniquim, e dá um tapa na cara dos haters. Ela sabe que não está num nível RPDR, mas usa o que tem da melhor forma.

Além de Herchcovitch, o júri é formado pela drag destruidora mesmo viu viado Márcia Pantera e pelo maquiador de Silvetty, Márcio Merighi.



Seguindo a ordem proposta por Musa, a primeira a entrar é Yasmin. Drag total! Lembra o estilo de drags de dez anos atrás. E isso é um elogio. Corpão, um macacão todo cravejado de pedras, cabelão. Não é forte o bastante para vencer, mas está longe das piores. SAFE.


A próxima é Rita. Olha a malaaaaaaaaaaa! (Quem não sabe o que é mala procura no Google, no próximo bloco a gente explica) Bicha, como você me entra no palco com um biquini e não faz o truque direito? Suas pernas e traseira são maravilhosas, mas nada evita que olhemos direto para onde não deveríamos estar olhando. Você tem maçãs na cabeça, uvas nas orelhas, abacaxis na roupas. Só deveria ter deixado a banana em casa. Como Márcia Pantera disse, faltou atitude.


Gysella vem quebrando tudo. Contradizendo a lenda de que verde é uma cor feia (vocês sabem do que estou falando), ela acerta em tudo: carão, cabelo, roupas, atitude, desfile — exceto os cílios. Estava pior que Gia Gunn. E por favor, suaviza essas bochechas, vinhada!


Hidra entra e... AIKISUSTO! Gente, não é perseguição, nem conheço a criatura, mas que montação pão com ovo foi aquela? A infeliz ainda tem o disparate de falar mal da roupa de Lavynia e de tudo que seus olhos veem. Tem espelho nesse workroom, não? Ela me lembra uma versão piorada de Milan. Apesar de tudo, apesar de Hidra ser Hidra, não concordei com a crítica de Alexandre. Como assim ela devia usar uma peruca com cor de cabelo que existe? No seu planeta não tem cabelo loiro, demonho? Oxe!


Musa entra e... UAU! Nem parece a mesma que entrou no programa, não parece nada com seu out of drag. É um dos looks que mais curti. Andrógina, mas ainda feminina. Bafo total! Essa sabe como montar um look babadeiro. Até a calça de Besourosuco ficou foda.

Xantara Thompson é a próxima. Raja? Não, né? Faltou uns três metros. A ideia e montação ficaram legais, mas senti aquele gostinho de "Já vi isso em algum lugar". "Ah, na terceira temporada de RPDR." Fui atrás do episódio onde Raja aparece de índia, e as roupas não são em nada parecidas. O cabelo é praticamente idêntico, mas o look não. Apesar disso, não achei tão chiquérrimo como Márcia Pantera frisou. Bom, para quem curtiu a roupa da Hidra... Vai bater cabelo que você ganha mais, Marcinha.


Lavynia vem em seguida com asas Victoria's Secret style. O cabelo vermelho contratsou com a roupa branca e verde, dando um quê de Hera Venenosa. Outro look baphônico. Achei engraçado quando a bicha quase caiu pra trás ao abrir as asas. Ela até suspirou de alívio depois, haha. Ah, Lavynia *_*

Como Márcio apontou, ela precisa mesmo carregar mais na maquiagem. Aliás, todas as queens têm MUITO ainda a aprender em questão de make up. Os acabamentos (falo de geral, e não só de uma) são amadores, elas parecem ter medo de gastar o delineador, o iluminador. O problema é que, enquanto umas economiza, outras não conhecem limites... Alguém traz Tiffany Bradshaw para ensinar um truque ou outro, por favor!

Laurie fecha o desfile, e decepciona. Tive vertigem por três dias ao ver o macacão da boneca. Que efeito era aquele? Nem o tecido suportou e acabou rasgando. O cabelo também não ajudou nada. A vaca me acerta na make (não está perfeita, mas, considerando as outras...) e erra em todo o resto. O desfile então! Se solta, bicha! Divirta-se. Entra na brincadeira. Quando Xantara entrou e você gritou "não-sei-o-quê NO SEU CU, VIADO!" eu pensei que você seria babado. Mas me aprontou essa. tsc tsc...

Resultado final:

Xantara é a vencedora da semana. É discutível. Não tiro o mérito da garota em apresentar algo único, mas vou fazer o quê? Mandar matar? No todo, a bicha é bem, e a bicha merece.


TOP 3 da semana na MINHA OPINIÃO:

Lavynia, Musa e Popovick


O Bottom 2 (Não sabe o que é B2? Vai embora daqui agora!) é formado por Laurie (previsível) e Rita (surpresa). Para se salvarem, as duas terão que dublar por suas vidas. Segundo Silvetty, seria uma apresentação de livre escolha. Como assim, se as duas dublaram a mesma música? O primeiro lipsync da Academia é Brand New Day, de Lorena Simpson. Li comentários na página oficial de Academia dizendo que as queens haviam assassinado Lorena depois da dublagem. Pesquisei no Google e a cantora continua viva ¬¬

Na primeira vez que assisti senti que faltou atitude de ambas, mas depois de rever trocentas vezes e captar seus movimentos, daria o SHANTAY a Rita. Ok, ela quase não abriu a boca para dublar. Parecia que estava à base de Lexotan, mas se jogou no chão, sensualizou, deu pernas, rebolado. Acho estranho até hoje nunca ter visto um vídeo de Rita dublando nas noites paulistanas, e agora entendo que a pegada dela não é essa. Sei que Rita é DJ, mas queria vê-la dublando mais.

Laurie decepciona mais uma vez. Gatãn, no seu vídeo de inscrição vi você toda rebolosa justamente com a música Brand New Day, batendo ombros pra sociedade, e no lipsync por sua vida você me dá aquelas balançadinhas sem vigor? A expressão dos jurados (não expressões, mas expressão conjunta: todos estavam com sono) é de uma animação que não dá para explicar. A cara da Silvetty então, é a melhor.

Começando com o primeiro SHANTAY DUPLO (depois de uma enrolação filha da..., mas engraçada e confortante para o estresse que ambas as candidatas deviam estar sentindo), Silvetty acerta. Não deu pra conhecer todas elas, e embora Laurie tenha sido bastante fraca, quero ver se no próximo episódio ela mostra algo digno. Ainda tenho esperança. Só agradeço por Rita ter ficado. O susto foi bom; agora elas acordam pra vida e tentam arrasar mais nos próximos desafios.

Ainda não dá para definir uma vencedora. O formato da Academia lembra Drag Race. É impossível evitar comparações. Não vejo AdD como uma versão pobre do sucesso norte-americano, mas como uma versão nacional. O cinema nacional também começou fraco. Quando poderíamos sonhar que o Brasil teria obras de suspense como Quando Eu Era Vivo, ou mesmo as incríveis minisséries produzidas aqui (Dupla Identidade, O Caçador, Sessão de Terapia, etc)? Academia de Drags é um passo pequeno, mas não tímido. Botar a cara na mídia e mostrar com orgulho que você ganha sua vida usando peruca e salto alto não é para qualquer um. Então antes de criticar, de meter o pau, entenda que nem sempre a verba condiz com o tamanho da vontade. E o amor com que Academia parece ter sido produzida é maior que qualquer orçamento de Hollywood. OLHA O FEIJÃO, PÁ!

Apreciem sem moderação.

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